O QUE É TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO E COMO ELA AJUDA A AGRICULTURA?

Soja, milho e algodão tornaram-se os principais produtos agrícolas do Brasil, atingindo uma produtividade por área na ordem de 3,26 toneladas por hectare (ton/ha), 5,52 ton/ha e 4,39 ton/ha (caroço), respectivamente.

Em 2000, os índices eram de 2,75 ton/ha, 3,26 ton/ha e 2,83 ton/ha, crescimento de 18,72%, 69,54% e 55,09%, nessa ordem. Todos esses dados estão disponíveis na série histórica fornecida pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para as três culturas.

Um conjunto de fatores contribuiu para esta realidade, mas vale ressaltar um em especial, o crescente uso da tecnologia de aplicação a partir de 2002, quando a ferrugem asiática começou a dizimar as lavouras de soja.

O problema é que o conhecimento ainda era incipiente entre os brasileiros, como bem lembra o professor Marco Antônio Gandolfo, um dos fundadores do Instituto Dashen, localizado na cidade de Bandeirantes, no Paraná.

MAS O QUE É TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO?

“Tecnologia de aplicação é o emprego de todas as informações, produtos ou técnicas para promover aplicação de agroquímicos com a qualidade necessária para o melhor controle do agente de dano, ao mais baixo custo e menor contaminação ambiental possível”, explica o especialista.

O conceito nasceu na Inglaterra, em 1986, com os primeiros estudos realizados pelo professor Graham Matthews. No Brasil, a proposta inicial surgiu das mãos do também professor Tomomassa Matuo, pesquisador da Unesp de Jaboticabal (SP), exatos quatro anos depois.

Sem essa expertise, hoje nosso país não lideraria as exportações mundiais do complexo soja com mais de 120 milhões de toneladas. Desde então, o uso da tecnologia de aplicação popularizou-se entre as demais culturas.

Cultivar, estádio da planta, praga, doença, produto, clima, temperatura, umidade do ar, condição de vento, volatilidade de produto, compatibilidade de calda, manutenção e regulagem dos pulverizadores evoluíram para métricas de eficiência.

Tudo para garantir que o agroquímico, seja ele um herbicida, inseticida, fungicida ou adubo foliar, deixe o tanque do pulverizador e atinja seu alvo em cheio.

É muito importante que a concentração do produto não sofra variações durante a aplicação, a adverte o professor Gandolfo

PRINCIPAIS FONTES DE PERDAS NA PULVERIZAÇÃO AGRÍCOLA

Fator de Risco*Potencial de Perda
Espuma no tanque40%
Incompatibilidade de calda10%
Deriva45%
Qualidade da água30%
Escorrimento15%
Estresse da Planta40%
Equipamentos35%
Chuva100%

TIPOS DE PERDAS NA PULVERIZAÇÃO

As duas principais fontes de perdas na pulverização podem ser divididas em dois grupos: ambientais e agronômicos. “Fatores ambientais elevam o potencial de perdas por deriva, evaporação, volatilidade do produto e lavagem”, esclarece o professor do Instituto Dashen.

Chuva, vento, umidade e temperatura são fatores ambientais. Todos eles devem ser rigorosamente respeitados. Adjuvantes com tecnologias mais avançadas, a exemplo daqueles com a tecnologia TransRapid™, podem contribuir com a redução das perdas causadas por alguns destes fatores, uma vez que conferem maior velocidade de absorção dos produtos pelas plantas.

“Os produtos da ORO AGRI são os únicos do mercado com essa tecnologia, que assegura a eficiência dos produtos aplicados, mesmo com a ocorrência de chuva após o intervalo de 15 minutos entre a aplicação e a precipitação”, destaca Jeferson Philippsen, gerente de produtos na companhia.

A pulverização deve ser feita apenas quando a temperatura estiver entre 20º C e 30º C. “Com temperaturas baixas, as plantas reduzem o metabolismo, dificultando absorção. Já temperaturas altas favorecem evaporação das gotas e fitotoxicidez, dependendo do produto”, informa Lucas Rafael Maesta Dias, especialista em Tecnologia de Aplicação da ORO AGRI.

Segundo Lucas Dias, a taxa de aplicação depende do tipo de cultura, altura, estágio de desenvolvimento da planta

O mínimo de 55% de umidade relativa do ar também precisa ser considerado, pois gotas pequenas tendem a evaporar rapidamente. Por isso, manhã e final da tarde são momentos mais favoráveis à pulverização. Pelo mesmo motivo, uma escala específica de velocidade de vento é desejada.

“O ideal são ventos entre 3 e 10 km/h. Acima disso causam deriva das gotas por uma distância de vários metros e até quilômetros, dependendo do método utilizado, e, sem vento, pode ainda ocorrer perda de gotas por inversão térmica”, explica o especialista em Tecnologia de Aplicação da ORO AGRI.

Velocidade ideal do vento na pulverização é entre 3 e 10km por hora

A deriva caracteriza-se por duas classes distintas, a exoderiva, vista acima, na qual as gotas são carregadas para fora do local desejado, e a endoderiva, que ocorre no mesmo talhão, onde o excesso de produto escorre pela folha sem que possa ser absorvido.

Uma classe de adjuvantes muito conhecida são os antiderivas, como é o caso do AIRTRUCK™. Trata-se de um produto cuja finalidade é reduzir as perdas causadas pela deriva, em situações em que o vento está um pouco acima das condições ideais de pulverização.

Trabalhos realizados no Instituto Dashen mostraram que o produto AIRTRUCK™ tem se destacado em relação a alguns quesitos, tais como aumento do DMV (Diâmetro Mediano Volumétrico, AR (Amplitude Relativa) e Redução do Percentual de gotas menores que 100 micrometros (Gráfico 1).

Gráfico 1: Percentual de gotas menores que 100 micrometros

Gráfico 1. Fonte: Instituto Dashen.

Já os fatores agronômicos resumem-se ao depósito. “Depósito é a quantidade de produto que chega à planta e cobertura é como ele se distribui nela”, distingue Gandolfo.

Em outras palavras, se um mínimo de agroquímico não atingir o alvo pretendido, aumenta-se a resistência e tolerância dos agentes de dano ao tratamento.

ELEMENTOS DA CALDA POSSUEM ORDEM CORRETA

Os produtos químicos respondem de forma diferente quando combinados e existe uma sequência definida para colocá-los dentro do tanque, como pode ser visto na Figura 1.

Figura 1: Ordem de mistura de produtos no tanque.

“É importante seguir a ordem de mistura dos produtos e realizar pré-mistura em alguns casos. Ainda se faz necessário o uso de um bom adjuvante para garantir ótima homogeneização”, recomenda Dias, que observa caldas sendo elaboradas com volume muito abaixo do indicado.

Entupimento de bicos e filtros é um problema que traz muita dor de cabeça aos operadores, obrigando-os a fazer paradas frequentes para a desobstrução dos mesmos.

Mas as consequências disso podem ser problemas ainda maiores: aumento do risco de contaminação do operador e dosagem dos ingredientes ativos que efetivamente chegam no alvo, uma vez que o entupimento pode bloquear a livre passagem deles pelo sistema da máquina.

Este bloqueio, por conseguinte, pode impactar negativamente no controle desejado, dentro das faixas onde o entupimento fora mais pronunciado.

“É muito importante que a concentração do produto não sofra variações durante a aplicação, para que favoreça a distribuição da mesma dose em toda a cultura”, complementa o professor Gandolfo.

De acordo com ele, um erro comum ocorre no uso de produtos com formulação WP (pó molhável) na pulverização.

“Alguns fungicidas do mercado com formulação WP são praticamente insolúveis. Como é usado em grande quantidade acaba entupindo os filtros”, lamenta.

Somente um adjuvante de última geração, como é o caso de WETCIT GOLD®, consegue homogeneizar a calda e permitir sucesso durante toda a aplicação.

É possível notar na foto abaixo que, comparado com outros adjuvantes, WETCIT GOLD® foi o produto que permitiu maior homogeneização e estabilidade da calda.

Foto registrada 24 horas após a agitação das misturas. 1. Fungicidas + WETCIT GOLD®; 2 e 3. Fungicidas + Adjuvantes concorrentes. Foto: Instituto Dashen

O teste foi realizado em laboratório, com uma mistura de fungicidas de difícil dissolução, tais como mancozeb e oxicloreto de cobre, nas proporções de doses recomendadas a campo.

É importante destacar que o mesmo resultado obtido neste trabalho é relatado por produtores, que encontram apenas com WETCIT GOLD® a solução para ter sucesso na aplicação com este tipo de mistura.

DIÂMETRO DE GOTA DEPENDE DO OBJETIVO

A análise dos fatores ambientais e agronômicos em conjunto permitirão determinar o espectro de gotas apropriado para cada situação e sua respectiva taxa de aplicação.

Cada tipo de agroquímico requer um diâmetro mediano volumétrico (DMV) de gota específico.

Seja ele um fungicida sistêmico ou um herbicida de contato, por exemplo, este é um parâmetro a ser observado, para que se obtenha a máxima eficiência de cada produto.

“As principais características que influenciam no tamanho das gotas estão relacionadas aos atributos físicos da calda, como viscosidade e tensão superficial. Quanto maiores os valores de viscosidade e tensão superficial, maior a força necessária para a pulverização”, aponta o professor Gandolfo.

Fungicida sistêmico requer pulverização com gotas finas a médias, gerando cobertura em torno de 50 a 70 gotas por cm2.

Para fungicidas de contato, o ideal são gotas muito finas e finas, proporcionando cobertura de 70 gotas por cm2 ou superior.

Herbicidas pré e pós-emergentes sistêmicos, como também são translocados, aceitam gotas médias e grossas a muito grossas, produzindo de 20 a 30 gotas por cm2. Já para herbicidas pós-emergentes de contato recomendam-se gotas finas e médias a médias e grossas, proporcionando de 30 a 40 gotas por cm2.

Inseticidas sistêmicos requerem gotas médias e grossas, com uma cobertura de 20 a 30 gotas por cm2 e os de contato, gotas finas e médias, resultando na cobertura de 50 a 70 gotas por cm2.

Para os adubos foliares, gotas médias, com um mínimo de 40 gotas por cm2, são desejadas.

Gotas inferiores a 100 micras (µm) – igual a espessura de um fio de cabelo – precisam ser evitadas, pois são facilmente deriváveis, e aquelas muito acima de 500 µm podem ocasionar escorrimento.

Escala de gotas na pulverização agrícola
TamanhoMicrometros (µm)
Extremamente Fina< 60
Muito Fina61 – 105
Fina106 – 235
Média235 – 340
Grossa341 – 403
Muito grossa404 – 502
Extremamente grossa:503 – 665
Ultra Grossa>665

Fonte: Programa OROTECH360

AJUSTE DA TAXA DE APLICAÇÃO

A taxa de aplicação refere-se à quantidade de calda pulverizada por hectare. Se a intenção é aplicar 100 litros por hectare, por exemplo, o pulverizador tem de ser calibrado para que asperja os 100 litros em 10.000 m2.

“Taxa de aplicação é um assunto delicado. Não existe uma média para todas as situações. É totalmente dependente do tipo de cultura, altura, estágio de desenvolvimento da planta e da real necessidade de cobertura da folhagem”, adverte Lucas Dias.

Até na mesma cultura pode variar bastante. Tomando um pomar de laranja como exemplo, se ele é recém-plantado, necessita de taxas baixas de aplicação, apenas o suficiente para atingir uma boa área de cobertura na folhagem.

Quando atinge o pleno desenvolvimento, alterna-se para taxas maiores, para garantir a cobertura de toda a copa da planta.

ERROS QUE PODEM SER EVITADOS COM O BOM USO DA TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO

Tanto para o professor Gandolfo quanto para Lucas Dias, o grande desafio atual da tecnologia de aplicação é a tentativa frustrada de o produtor utilizar sempre o mesmo modelo de ponta para toda e qualquer situação.

Infelizmente, esta prática gera muitas perdas na eficiência da aplicação.

Pressão é outro assunto que requer mais atenção e a dica é seguir rigorosamente as vazões pré-estabelecidas pelo fabricante das pontas. Muitos são os modelos disponíveis no mercado e cada uma tem uma função específica.

Em resumo, para aplicação de adubos foliares, inseticidas e fungicidas, tanto sistêmicos quanto de contato, a ponta Cone Vazio é a mais indicada. Ela produz gotas com padrão mediano e uma excelente cobertura.

Para a aplicação de herbicidas, recomenda-se o uso de pontas com maior orifício e menor pressão; se possível, ainda utilizar pontas com indução de ar, que produzem gotas maiores e com menos capacidade de deriva, detalha Dias.

Produto*PontaGotaµmCobertura
Inseticida de ContatoCone VazioMuito finas e finas<150 a 250Excelente
Inseticida SistêmicoCone VazioMuito finas e finas<150 a 250Excelente
Fungicida de ContatoCone VazioMuito finas e finas<150 a 250Excelente
Fungicida SistêmicoCone VazioMuito finas e finas<150 a 250Excelente
Herbicida  de ContatoLeque Plano SimplesVariadasTodosMediana
Herbicida SistêmicoLeque Plano /indução de argotas mais grossas> 300Mediana
Adubo FoliarCone VazioMuito finas e finas<150 a 250Excelente

*A escolha do melhor modelo pode variar conforme estratégia do agrônomo e o risco de entupimento da ponta Fonte: Programa OROTECH360.

Como observado, manter a mesma ponta em todas as situações pode gerar desperdício, comprometer a cobertura, o depósito e a eficácia do tratamento.

“Vão acertar uma vez e errar muitas”, adverte o professor Gandolfo. Até mesmo no estabelecimento de uma única cultura as pontas podem variar. Vejamos o exemplo da soja.

Um erro comum é usar a mesma ponta em diferentes tratamentos

Antes de semear, desseca-se com herbicida através de pontas de gotas médias a grossas (Ponta Leque Plano/indução de ar).

Daí para frente, as aplicações futuras de fungicidas e inseticidas serão com uma ponta tipo Cone Vazio, com vistas a maior cobertura, mantendo-a quando a cultura estiver totalmente fechada.

O ajuste do manômetro depende da taxa de aplicação, a distância entre os bicos e altura da barra

DICAS DE AJUSTES E MANUTENÇÃO DO PULVERIZADOR

O ajuste do manômetro é feito em BAR e a calibragem depende de alguns detalhes primordiais como a distância existente entre os bicos, a velocidade de vazão e a taxa de aplicação.

Aqui, mais uma vez, é necessário seguir à risca a tabela que acompanha as pontas.

“Pressão excessiva forma gotas muito finas, elas podem ocasionar deriva e também desgaste das pontas. Com pressão muito baixa, o produto não atinge o alvo desejado, formando também gotas muito grossas”, orienta Dias.

Acompanhe na tabela os valores estabelecidos pela Nozziles Boquilas para as pontas AD-IA 02 (Leque Plano Simples com indução de ar).

Note que para uma taxa de aplicação de 107 l/ha e velocidade de 10 km/h o ajuste correto é de 3,4 BAR de pressão.

O distanciamento entre as pontas também determina a altura da barra do pulverizador.

Se a distância entre uma e outra é de 50 cm, por exemplo, a altura entre a barra e a cultura tem de ser os mesmos 50 cm. Muito longe da cultura causa deriva, muito perto, escorrimento do produto.

Caldas de difícil dissolução ou com problemas de compatibilidade podem ser prejudiciais, causando entupimento frequente dos filtros, bem como, podem levar ao desgaste prematuro das pontas. Não há regra para trocá-las, mas elas possuem vida útil.

Em média, as pontas de cerâmica duram 400 horas e as de náilon 200 horas. “Gasta-se 5 minutos para fazer todas as trocas”, calcula o professor Gandolfo.

Adjuvantes que promovem boa homogeneização, como WETCIT GOLD®, auxiliam muito nesse ponto: evitam paradas constantes para desentupimento de pontas; evitam fitotoxicidez na cultura, causada por alta concentração de ativo em determinados pontos.

Ainda, com o uso de WETCIT GOLD®, é possível prevenir ou evitar a perda total da calda quando da ocorrência de alguma incompatibilidade de baixa complexidade (situação que pode representar desperdício de tempo e dinheiro). Sem contar que, com o uso contínuo do produto, mantem-se o sistema interno do pulverizador sempre limpo e livre de resíduos.

Tabela Ajuste de Pressão. Fonte: Magnojet

Tratando-se ainda de caldas de difícil dissolução, é altamente recomendável que os filtros sejam vistoriados com frequência. Ele é um bom indicativo da qualidade da calda de forma geral.

O fundador do Instituto Dashen também chama atenção em relação ao pulverizador. “Máquinas com sistema de agitação deficiente permitem que os produtos se separem no tanque ou no circuito hidráulico, variando a dose aplicada”, diz.

Fica claro que a tecnologia de aplicação possui muitos detalhes a ser considerados, sendo impreterível o auxílio de um engenheiro agrônomo de confiança para tomada das melhores decisões.

Ele ou ela poderá decidir quando optar por uma ponta do tipo leque, cônica, com ou sem indução de ar, escolher o adjuvante mais adequado, de acordo com os benefícios que ele entrega, bem como auxiliar na execução de uma calibração correta do pulverizador.

O especialista em Tecnologia da Aplicação da ORO AGRI afirma categoricamente ser possível aumentar a eficiência da pulverização, seguindo as orientações abordadas neste post.

A equipe de campo já atendeu mais de 200 agricultores em todo o Brasil através do Programa OROTECH360.

O projeto é voltado à Tecnologia de Aplicação de Alta Performance, onde se demonstra, inclusive, a real eficiência do surfactante em uma pulverização, com ajuda de um corante reagente à luz ultravioleta.

Trata-se de mais um projeto pioneiro da empresa e que será um dos próximos assuntos aqui no ORO-BLOG.

Leia ainda AGRICULTURA APROVA EFICÁCIA DO ÓLEO ESSENCIAL DA CASCA DE LARANJA e também acesse o site do Instituto Dashen em http://www.institutodashen.com.br.

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